A vida é feita de pequenos momentos. Pequenas coisas. Pequenos grandes amigos. Amigos que sabem estar. Amigos que sabem receber. E foi apenas isto que me levou a registar esta fotografia. Estávamos em 2018 e tive a oportunidade de conhecer o filho de dois professores, de nome Miguel e que me convidou a passar uns dias de férias numa pequena aldeia, de nome Casalinho lá para as bandas de Proença-a-Nova. Quando lá cheguei, nomearam-me fotógrafo residente (se bem que isso quase ou nunca se tenha aplicado, muito por minha culpa).
Depois de uma longa conversa á mesa, onde todos tivemos oportunidade de expor as opiniões acerca do meu trabalho, das minhas viagens em prol da consciência ambiental, das galáxias e até mesmo de quem sabe verdadeiramente de apicultura, foi-me lançado o desafio de visitar um local ali próximo, com o objetivo de o fotografar. Um local que poucos conhecem, perdido no meio das serranias, lá para as bandas de um tal “Fernando”. Pasmado com o que vi durante o dia, rapidamente imaginei fotografá-lo de noite. E tão depressa imaginei, como depressa chegou a noite prevista. Depois de quase 30 minutos aos saltos dentro de uma Peugeot do século passado, agarrando firmemente a câmera fotográfica, lá chegamos. Essa noite foi para testar o local, no que toca ao melhor enquadramento.
Cerca de um mês depois, numa noite de Verão regressei ao mesmo sitio. Agora em noite de Lua Nova, a pé e sem os solavancos da Peugeot, pois ao que parece “o motor não quis pegar”. Ok. Tudo bem. Quando se procura o que se quer, nada nos impede. E a vida deve ter destas coisas, destes condimentos para nos motivar e para nos motivarmos a nós próprios e aos que nos rodeiam. Por essa razão fui com dois amigos. A verdadeira razão porque os levei (os amigos), foi porque assim os mosquitos que habitam aquele lugar, tinham maior área de pele para picar. Bem tentei que o Miguel também fosse, pois como não tem cabelo, está mais exposto aos mosquitos e talvez isso evitasse que eu ficasse picado. Não tive sucesso. Saí de lá a contar os buracos na pele. Talvez tantos quanto o ruído existente nesta fotografia panorâmica, em virtude do elevado valor de ISO que tive de colocar nos parâmetros manuais da câmera. O sitio era escuro. Tão escuro que os morcegos aparentavam ser de cor branca.
Deixo aqui esse momento, resultante de uma composição de 14 fotografias verticais, obtidas com uma Sony α7R IV e uma objetiva 16-35mm f2.8. 10 segundos de exposição e ISO 6400. Clique na miniatura ao lado, para visualizar a fotografia em tamanho maior.