O Parque Natural do Alvão tem sido o meu local preferido ao longo dos anos. Há mais de duas décadas que percorro os caminhos do parque, em busca dos melhores momentos fotográficos, para produção de planos de timelapse. No entanto, nos últimos anos, tenho-me dedicado um pouco à fotografia de natureza, dado que o local é propicio a isso. Gosto de estar em contacto com a natureza, enquanto caminho por trilhos de pastores e caminhos centenários que me levam quase sempre a lugar algum, mas preenchem-me enquanto humano à face da Terra.
Ontem foi um daqueles dias, em que, munido de uma camara fotográfica e na companhia de amigos que já não via há algum tempo, fiz-me ao caminho por entre montes e vales, bosques e riachos. Um dia perfeito na companhia de gente imperfeita, mas verdadeira. Um dia para mais tarde recordar. Um obrigado a todos eles.
E porque a dado momento já a meio da caminhada, me veio á lembrança que “Uma flor é apenas uma flor”, aqui fica o poema de Alberto Caeiro:
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa