Num belo dia de primavera, a manhã despontava serena nos Moinhos de Jancido. A brisa suave dançava entre as folhas, trazendo consigo o aroma fresco das flores recém-desabrochadas. O sol nascente pintava o céu com tons rosados e dourados, enquanto os primeiros raios iluminavam as margens do rio Sousa e os antigos moinhos, conferindo-lhes um brilho quase mágico. Acordei…
Apaixonado pela natureza, levantei-me bem cedo, e equipado com a minha câmera fotográfica e paciência rumei aos Moinhos. Eu já a tinha fotografado lá no alto no céu, mas pretendia uma fotografia da Águia-pesqueira, empoleirada de forma majestosa nos amieiros que ladeavam o rio Sousa. Determinado a capturar uma imagem dessa ave rara, caminhei silenciosamente pelo bosque. Cada passo era cuidadosamente calculado para não perturbar a tranquilidade do lugar.
Foi então que ao aproximar-me da ponte de Longras, ao levantar os olhos, pareceu-me vislumbrar uma ave de rapina empoleirada num Amieiro a cerca de 100 metros de distância. Era a Águia-pesqueira e estava lá! Empoleirada num velho mas robusto amieiro, as suas penas brilhavam à luz do sol da manhã. Rapidamente ajustei os parâmetros da câmera e através da objetiva de 600mm pude confirmar o que os meus olhos haviam reparado. E novamente pensei para comigo. É a Águia-pesqueira e está ali! O silêncio era absoluto, quebrado apenas pelo canto distante dos pássaros que começavam a despertar. E então, fiz um clique. E de seguida, mais cliques. A imagem ficou perfeita: a águia em toda sua majestade, contra o pano de fundo da natureza exuberante que abraça o rio Sousa. E levantou voo quando ainda confirmava as fotografias que havia registado.
Eu sabia que aquele instante era raro e precioso, resultado da minha dedicação e foco. Uma oportunidade única para registar uma ave tão bela e rara na região. E sorri, sentindo-me parte de algo maior, conectado à beleza selvagem que havia conseguido capturar através da objetiva. Um momento feliz que fez esquecer todos os outros insucessos. Sonhar e acordar cedo, a par da minha persistência, tinha valido a pena.