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O Cinema e a Fotografia na Consciencialização Ambiental – EPROMAT
Paulo Ferreira irá realizar uma palestra intitulada “O Cinema e a Fotografia na Consciencialização Ambiental”, na Escola Profissional de Matosinhos (EPROMAT). O evento realiza-se no dia 5 de junho pelas 10H00. Entrada livre. O convite endereçado ao Paulo Ferreira é sinónimo de que o trabalho que tem realizado, começa a ser interessante para as escolas, palco da formação daqueles de quem se espera um futuro melhor.
Porque o mundo tem todo o tempo para mim
Era Outono. A Patagónia vestia-se de cores absolutamente extraordinárias. As Lengas (Nothofagus pumilio) cobriam-se de um manto malhado, mosqueado, todo ele remendado nas diversas cores. Uma espantosa paleta de tons nas cores amarela, vermelha, branca ou verde. Achei que nem mesmo um pintor, conseguiria aqueles tons. Eu, sozinho, munido de uma mochila às costas e de uma camara fotográfica ao pescoço, caminhava há algumas horas. Partira bem cedo de “El Chaltén” (pequena povoação na Argentina), com destino ao “Fitz Roy” (Cerro Chaltén).
O nome “Fitz Roy” provém da homenagem ao capitão do navio que levou Charles Darwin na sua volta ao mundo. No seu sopé existe uma lagoa muito bonita de nome “Laguna de los Tres”. Eu queria vê-la, fotografá-la, memorizá-la. Uma forma de enriquecer, não o bolso, mas a mente.
A meio do caminho, dou por mim envolto naquele manto malhado, mosqueado. A fotografia em cima é retrato disso mesmo. Mais parece uma pintura. As árvores (que morrem de pé) adornam-se com cores de outono. Algumas, já no fim de vida, deixam transparecer os ramos secos, velhos, brancos e negros. Nus. A longevidade da sua vida, deixa marcas. Nós, Humanos, somos parecidos. Tal como a árvore, podemos tentar minimizar as marcas que a vida nos impôs, cobrindo-nos de adornos. Mas seremos incapazes de apagar as marcas da longevidade.
Eu olhei ao meu redor e registei algumas fotografias. Qual memória para mais tarde recordar, como está a acontecer com este texto.
Minutos depois, desviei o olhar destas árvores e prossegui o meu caminho. De certa maneira há que prestar atenção e valorizar aquilo ou aqueles que nos rodeiam. Mas, a vida deve continuar. O caminho faz-se caminhando, disse-o o poeta espanhol António Machado. E eu concordo.
Duas horas depois, o meu olhar já só via tudo em tons de amarelo e vermelho. Dei por mim a tentar retirar os óculos de sol. Mas para meu espanto não os tinha comigo. Estava embebecido com todo aquele colorido. Era essa a realidade.
Uns passos mais à frente, começo a ouvir o barulho ténue de uma cascata. A água a correr pelos rios e ribeiros de alta montanha, deixa marcas nos ouvidos daqueles que admiram a natureza em silêncio. Tentei não fazer muito barulho com os pés. Hoje, penso que cheguei a levitar, pois só me lembro do claro som da água a correr por entre as pedras. Tentei vislumbrar por entre as Lengas, esse som. Ouvir com os olhos. Ver primeiro e ouvir depois. Procurar a imagem da água algures por detrás dos troncos velhos das árvores. O som confirmaria depois esse vislumbre. E assim foi. Serpenteei por entre as árvores e vislumbrei o Rio de montanha. Águas límpidas e selvagens. Corri na sua direção e só voltei a sentir os pés, quando dei por mim quase a cair à água.
Estanquei. Respirei fundo, enquanto retirava a mochila das costas. Peguei na camara fotográfica, (tive de a procurar pois já não a sentia ao pescoço) e registei esta fotografia. Uma, duas, três, quatro… Talvez umas duas dúzias delas, enquanto tentava respirar mais calmamente. Passada toda aquela emoção, sentei-me ao lado da mochila. E ali fiquei a ouvir a água. A ouvir o vento. A ouvir o Condor. A ouvir o balouçar das folhas nas árvores. Ver, era quase impossível, tamanho o êxtase. E deixei-me levar pelos sentidos. Impossível adormecer ali. Sozinho, ali fiquei até me lembrar de que tinha de continuar. O “Fitz Roy” era o destino final. Depois eu teria todo o tempo do mundo. Porque o mundo tem todo o tempo para mim.
Nova Zelândia – A aventura do drone
Nova Zelândia, 07 de Maio de 2018. Acordei bem cedo, depois de uma noite onde pernoitei em Taupo. O meu objetivo para esse dia era percorrer um trilho de cerca de 16 Km que me levaria a visitar os lagos “Blue Lake” e “Nga Puna a Tama” no Parque Nacional Tongariro na ilha Norte. Estava também prevista uma passagem pelo cume do vulcão se fosse possível.
Depois de um pequeno almoço à pressa, que a luz do dia não tardava a surgir, desloquei-me até ao Parque Nacional. A distância que separa Taupo de Tongariro é de cerca de 100 Km. A viagem foi rápida pois a ânsia de iniciar o trilho era enorme. No entanto antes de chegar ao Parque, decidi colocar no ar o meu drone, o Inspire 1, dado que a paisagem era avassaladora e não quis perder aquele enquadramento. Foi um erro enorme, é a minha convicção ainda hoje. Fascinado com o local, não me apercebi da distância que o drone tinha percorrido, pois queria que ele fosse até muito perto do cone do vulcão. Já se tinha afastado talvez uns 4 ou 5 Km quando dei por mim a olhar para os dados no controlador. Motivo mais do que suficiente, para perder a ligação entre o drone e o controlador. Não fosse isso suficiente, o facto de haver atividade vulcânica na zona, ajudou a que as coisas se complicassem ainda mais, dada a interferência rádio.
Sei agora (pois tive acesso mais tarde ás imagens do drone), que o equipamento esteve parado na mesma posição, durante cerca de 2o minutos e depois aterrou sozinho. Só que pousou no topo de uma árvore, pois o local é repleto de vegetação muito densa.
Na imagem anexa é possível ver os pontos 1, 2 e 3. O ponto 1 era o local onde eu estava a controlar o drone. O ponto 2 era o único acesso possível (de carro) ao interior da floresta e não foi mais do que 500 metros a partir da estrada principal. O ponto 3 foi o local onde o drone pouso sozinho. A linha amarela, era o rilho que eu pretendia fazer nesse dia.
Nesse dia tentei entrar na floresta, com o o objetivo de encontrar o drone, mas após percorrer 100 metros, olhei para trás e já não sabia para onde ficava o local de onde parti. Isto porque a vegetação era muito densa e não permitia olhar as referências. Desolado, deixei o local e regressei a Taupo. Acabei por não fazer o trilho.
Passei a 2ª noite em Taupo e na manhã seguinte, ao pequeno almoço, comecei a pensar que não iria deixar o drone no Parque Nacional, pois era um objeto estranho. Dei por mim a pensar de que forma o iria recuperar. Eu sabia a ultima localização conhecida do drone, mas também não tinha a certeza que assim fosse. Nunca havia experienciado uma coisa assim. Uns minutos depois, já no fim do pequeno almoço, ocorreu-me uma ideia. Taupo é uma cidade pequena mas com muitas lojas de artigos para os pescadores. E se eu comprasse um rolo de fio de pesca? Isso poderia ajudar–me a encontrar o drone. Sempre seria mais seguro para mim, enveredar pela floresta dentro.
E assim foi. Comprei um rolo de fio com 350 metros. Não seria suficiente mas era o maior que havia. Regressei ao Parque Nacional nessa manhã, decidido a encontrar o drone.
Pelo caminho ainda tentei ajuda junto de um posto da policia do parque, mas o “Crocodilo Dundee” (vestido a rigor), não estava disposto a ajudar, dado que eu havia infringido uma regra do Parque. Por muito que eu explicasse que estava fora do Parque, ele não quis saber e a única coisa que fez foi dar-me um contacto telefónico de uma pessoa que conhecia muito bem a região e que poderia ajudar na localização. Azar o meu, liguei para esse contacto e naquele dia estava na Ilha Sul.
Parecia que estava tudo contra mim. Mas não desisti. Regressei ao local e avancei pela floresta dentro. Percorri os 100 metros do dia anterior pois as minhas pisadas ainda estavam marcadas no terreno e só depois é que amarrei o fio de pesca a uma árvore. Fui desenrolando o fio e olhando para o controlador que me orientava no sentido da localização do drone. Se eu pretendia seguir a direito, quando olhava para trás, era tudo curvo. Pelo meio tinha de descer aos regatos e subir de novo por entre as árvores densas da floresta. As folhas das plantas agarravam-se à roupa e tudo parecia colar ao corpo.
Uma meia hora depois, estava muito perto da localização do drone dada pelo controlador e o rolo do fio também chegava ao fim. Comecei a olhar para a copa das árvores, pois era natural que estivesse lá, uma vez que eram muito densas. Mas por muito que olhasse não via nada branco (a cor do drone).
Uns minutos depois, já quase a desistir, os meus olhos fixaram-se no drone. Estava no chão. Vi um conjunto de peça de cor branca e avancei da sua direção. A alegria era imensa. Tinha encontrado o drone, não queria acreditar. Era como se tivesse encontrado uma agulha num palheiro. Só que assim como fiquei feliz, rapidamente esmoreci, pois reparei que o drone estava partido em muitos locais. E a parte mais importante para o meu trabalho, a câmera, estava partida uns metros mais ao lado.
Peguei no drone e disse para mim mesmo que pelo menos o tinha recuperado e não iria ficar com a sensação de que um dos meus equipamentos tinha ficado num local tão natural como aquele.
Regressei ao ponto de partida, enrolando novamente o rolo de fio e a pensar como é que iria resolver o problema de ficar impossibilitado de registar imagens aéreas para o filme que ali tinha ido fazer (AOTEAROA – We Are All Made Of Stars).
Os dias seguintes foram difíceis pois não tinha comigo todas as ferramentas que havia levado de Portugal até à Nova Zelândia. No entanto quando me desloquei para a ilha Sul, percebi que não valia a pena ficar agarrado a esse problema e dediquei-me fortemente ao registo de timelapse e video. A ilha Sul é mais montanhosa do que a ilha Norte e favorece imenso a captura de imagem, quando nos deslocamos para pontos elevados.
Esta foi apenas uma das histórias que vivi na Nova Zelândia.
Patagónia – El Charpitero Gigante
A viagem de Puerto Natales até ao Parque Nacional decorreu numa ambiência de filme de autor, daqueles filmes tão herméticos na sua essência que apenas o próprio autor o compreende: a viatura avançava velozmente pela estrada e eu tinha a sensação de estar a ver sempre a mesma cena. A escala e dimensão do cenário alargam o horizonte a uma perspetiva difícil de apreender para quem não é habitual destas paragens. De início o trilho mostrava-se intratável, muito difícil e lento, por entre pedras soltas que a cada passo para a frente me faziam deslizar dois atrás. Com meia-hora de caminho necessária para alcançar a meia-encosta, o trilho seguia as curvas do vale que me levaria à base das torres num passo, agora, mais firme e seguro pois o desnível era pouco acentuado. Aqui ou ali salpicado por Lengas acompanhava a margem direita do rio Ascencio, visível no seu correr por entre as pedras e as Lengas de cores douradas que polvilhavam as margens. Apesar de algum vento forte, o dia estava bom para caminhar. Neste mister de calcorrear os caminhos por onde já ninguém anda, sobra-nos tempo para arrumar ideias dentro da cabeça, planear projetos ou, simplesmente, sentir o pulsar da vida na sua plenitude tornando-nos em recetáculo geral de todas as sensações. Do milhão de memórias que carregava comigo, o cérebro insistia em relembrar-me constantemente que eu estava a caminho de Las Torres Del Paine, do que iria ver diante de mim quando lá chegasse. Essa dúvida, incerteza, desconfiança, crença… alimentava-me de coragem e força para vencer a etapa. Ver com os meus olhos, primeiro; primeiro, o olhar. Sempre.
Por uma antiga e rudimentar ponte de madeira saltei o rio Ascencio que há alguns quilómetros me vinha a acompanhar para entrar num bosque fechado de Lengas, a árvore mais característica da Patagónia. Em sintonia, tudo se complementava, forma e conteúdo no seu esplendor. Sentado para descansar alguns minutos e hidratar-me, ergui-me de sopetão ao surpreender-me com o inesperado: a cerca de 20 metros de distância, por entre os ramos das árvores, duas aves de médio porte a saltar de tronco em tronco. Não cria nos meus olhos, mentiam seguramente.
Trocada a grande angular até aí usada, por uma outra de “400 mm”, lancei-me em perseguição desabrida daqueles “pica-paus” até perder a noção do local em que havia deixado a mochila. Sei agora que era um pica-pau preto de nome El Charpitero Gigante, cuja principal característica distintiva entre géneros é a cabeça vermelha do macho, fácil de observar sempre que este percorre o tronco de uma árvore em busca de alimento. De novo a caminho, estava maravilhado com o constante deslumbramento provocado por todos estes encontros, casuais ou não. O avistamento dos pica-paus não me saía da cabeça, tão surpreendente quanto mágico havia sido.
Patagónia – Subida ao Fitz Roy
O rio corria sem sossego por entre as pedras do vale. Em redor, árvores vestidas com os tons de outono cobriam todo o vale até meia encosta, onde já surgia a neve e, de súbito, imponente, o maciço rochoso do Fitz Roy. O pico, fantasmagórico no seu incessante jogo de escondidas com as névoas.
Nada substitui a experiência pessoal, cunho marcado da vivência in loco. O registo mecânico permite a guarda, para memória futura, de cada detalhe, elemento, pormenor. É um resgate feito ao passado, transmitido em herança às gerações vindouras. Mas a memória visual, mesmo que falível, mesmo que roída pelo tempo, é feita da vivência pessoal, intransmissível, incorruptível na essência – eu vi o Fitz Roy!
Posto a caminho, atravessei rio Blanco para chegar ao último acampamento antes de atingir a base do Fitz Roy: Camping Rio Blanco.
O sol ia alto e o calor inclemente era um braseiro que trazia sob a roupa; estava a ser tomado pelo cansaço. Obriguei-me a parar, descansar e a beber água, a hidratação é fundamental e eu não me esqueci dela durante os dias anteriores.
Um painel de madeira ali perto informava um quilómetro para chegar ao fim do trilho e sugeria ao leitor que verificasse o seu estado físico. Agora??? Depois de 11 quilómetros percorridos é que sou alertado para isto? Vim eu do outro lado do mundo para me atirarem este desaforo à cara? Se tinha chegado até ali, iria certamente percorrer o último quilómetro tal como havia feito os anteriores. Qual é a dificuldade?, atirei, altivo, em modo desafiador aos deuses da fortuna. Por um mísero quilómetro… Por quem me tomam?
Resoluto, a mastigar quezília, fiz-me à vida que não me atenho a pormenores. De súbito… estanquei. As árvores tinham desaparecido e o que se plantava diante dos meus olhos exauriu-me todas as forças: o trilho seguia montanha acima numa inclinação que de acentuada não tinha nada – tinha tudo!
Como uma cobra, serpenteava a encosta. Ah!, pois… admiti a custo: o tal quilómetro em falta!
A aventura na Islândia em fotografias
Em abril de 2019 viajei para a Islândia com o objetivo de realizar um novo filme sobre a consciência ambiental. Foram vários dias de perfeita correria contra o tempo e contra o cansaço. Apesar de todos os constrangimentos, considero que a aventura foi um sucesso. Um dos momentos altos da viagem, foi o facto de ter encontrado Sir David Attenborough, quando no final de um dia extremamente cansativo, reparo que estava no mesmo restaurante, na mesa mesmo ao lado. Foram vários minutos de conversa que ficarão para sempre na minha memória. Ficam aqui algumas fotografias da autoria de Marco Ribeiro, que retratam um pouco dessa viagem. O making of pode ser visualizado aqui. O filme pode ser visualizado aqui.
“Aotearoa” na seleção oficial do Viva Film Festival
De regresso à terra natal, após duas semanas de viagem na Islândia – onde rodou o seu próximo documentário –, Paulo Ferreira viu o filme “Aotearoa – We Are All Made Of Stars” nomeado para o melhor filme da quinta edição do Viva Film Festival, na categoria Ecologia.
O Viva Film Festival, sedeado em Sarajevo (Bósnia-Herzegovina), realiza-se anualmente e destaca filmes em torno de temas religiosos, ecológicos, turísticos e relacionados com a juventude. Para a edição deste ano, foram submetidos a concurso 1768 filmes, provenientes de 107 países.
O festival foi criado por uma equipa internacional de profissionais do cinema, ambientalistas, diplomatas, líderes religiosos e académicos que inclui o ex-vice-presidente dos Estados Unidos da América, Al Gore.
“Aotearoa – We Are All Made Of Stars”, divulgado publicamente no último Dia Mundial da Terra, é um documentário curto realizado na Nova Zelândia e pretende ser um filme que consciencialize as pessoas para a temática do ambiente. Nomeadamente para a conservação dos recursos fundamentais à vida. Os maori acreditavam que as “glowworms” (uma espécie de larva florescente) zelava pela preservação da água que circulava no interior das cavernas e isso está bem patente no filme. Acreditavam que estes seres eram os espíritos dos seus antepassados. Eram as estrelas lá no céu. “We Are All Made Of Stars”. “Aotearoa” tem argumento de Cristina Alves e voz de Cristina Alves e Conrad Harvey.
Mais informação em: Viva Film Festival
Islândia – Aventura para realização de novo filme
Paulo Ferreira está a preparar uma aventura para realizar um novo filme sobre o ambiente, procurando consciencializar para a problemática das alterações climáticas. Desta vez, o palco para as filmagens dos planos de timelapse e de vídeo será na Islândia.
Em termos geológicos, a Islândia é uma zona da Terra ainda particularmente recente. Ali, a Natureza continua fortemente empenhada em ser o mais criativa possível, para gerar as paisagens vulcânicas e glaciares o mais estranhas que alguma vez se possa imaginar.
Não se contentando com isto, é ainda a terra de “Trolls e de Elfos”, de músicos e musicas e de contadores de histórias. Histórias que nos levam para as noites e dias sem fim. É também a terra das auroras boreais e dos céus dramáticos, de montanhas coloridas e de praias monocromáticas, de fogo e de gelo.
Tudo isto é matéria-prima para um filme sobre a consciência ambiental, à semelhança de trabalhos anteriores de Paulo Ferreira. A aventura na Islândia será muito mais do que uma viagem no seu território. Será, sobretudo, uma viagem no tempo, uma viagem para uma era em que os humanos ainda não pisavam a Terra.
Serão estas paisagens frias, áridas e inóspitas, contudo repletas de vida, que darão o mote para o próximo filme de Paulo Ferreira.
No momento, o protejo está a ser estudado e delineado ao pormenor, procurando-se por patrocinadores que estejam interessados em financiar esta viagem. Afinal de contas, todos nós temos a nosso cargo a responsabilidade de deixar a nossa casa às gerações futuras, o mais natural e sustentável possível.
Na eventualidade de haver interesse em patrocinar, entre em contacto através do email (paulo@pauloferreira.pt) ou através do telefone: 966454440
Cortinarius Porphyroideus – um cogumelo raro
A minha aventura pela Nova Zelândia previa um dia para subir ao glaciar Rob Roy para realizar algumas fotografias, planos de timelapse e vídeo. A ideia era sair de Wanaka bem cedo e conduzir por uma estrada de terra, durante cerca de uma hora. Era o tempo previsto para percorrer os quase 50 quilómetros que ligam Wanaka ao início do trilho para o Rob Roy. Um trilho de alta montanha com cerca de 12 quilómetros.
Rapidamente verifiquei que era um percurso em muito mau estado e cujo fim poderia não ser atingido, pois haviam muitos cursos de água provenientes das montanhas que atravessavam a estrada de terra. A sinalização, essa, estava lá constantemente em todas as travessias e informava que, caso a chuva fosse intensa, deveria regressar a Wanaka. Com calma e atento às mudanças de tempo, avancei. Pensava para mim: E se, depois de caminhar durante duas horas para chegar ao Rob Roy, começar a chover?, terei tempo para regressar? Olhei o horizonte e percebi que talvez o tempo não mudasse. Confiante e esperançado, avancei.
Depois de chegar ao fim da estrada era altura de colocar a mochila às costas. Aparentemente pesada, pois todo o equipamento de fotografia estava no seu interior, rapidamente esqueci-me disso e comecei a percorrer o trilho que ia pelo vale fora. O Rob Roy chamava-me.
A manhã estava fria e havia gelo no trilho que serpenteava ao longo do rio proveniente do glaciar Rob Roy.
Depois de caminhar durante cerca de 30 minutos, cheguei a uma ponte pedonal que permitia a passagem para a outra margem. Uma vez na margem oposta, subi a bom ritmo e rapidamente dei por mim a tirar alguma roupa. A cada passo que dava a subida parecia cada vez mais íngreme. Parei várias vezes para descansar um pouco debaixo de uma das árvores da imensa floresta de faias que polvilha todo o vale em direção ao glaciar. Lá no alto, um Kea (um papagaio muito inteligente) voa sob a copa das árvores, abrindo as suas asas coloridas, assinalando a sua presença.
Foi numa dessas paragens que retirei a câmara fotográfica e tentei enganar-me a mim próprio. – Não, não estava cansado. Havia parado para fotografar a natureza ao meu redor! Encostei a mochila a uma árvore e enveredei pelo interior do bosque na ânsia de ver qualquer coisa que fosse surpreendente e que me fizesse esquecer que estava a apenas meio caminho para o glaciar.
Depois de caminhar alguns metros para dentro da floresta de faias, aninhei-me para fotografar uma aranha muito colorida que por ali tecia a sua teia e comecei a fotografá-la. Confesso que estava completamente concentrado na procura da melhor perspetiva para enquadrar aquele aracnídeo. Por isso, decidi deitar-me no solo repleto de musgo e foi aí que os meus olhos se fixaram num pequeno cogumelo de uma cor estranha. Perguntei a mim próprio: Agora?, agora que ia descansar um pouco? Nunca tinha visto nada igual. Enquanto procurava acertar os parâmetros corretos para o registo daquele momento dei comigo a imaginar-me num dos filmes do Harry Potter.
As minhas mãos tremiam e eu, surpreendido com aquele cogumelo, não conseguia registar o momento. Todos os meus sentidos estavam ativos e inundavam-me de sensações e de emoções que só consegui controlar ao fim de dois ou três minutos. O próprio silêncio daquele lugar já era audível!
Eu queria continuar a subir para o Rob Roy, mas aquele cogumelo não me deixava! Acho que fiquei ainda mais cansado, tal era a adrenalina do momento. Acho que no total devo ter feito mais do 20 fotografias. Eu próprio tive de colocar um fim ao registo fotográfico, ou não fosse eu que ali estava.
Sozinho, no meio da floresta de faias, a caminho do glaciar Rob Roy, eu havia encontrado um cogumelo raro (só mais tarde soube através de uma procura na internet). O seu nome: Cortinarius Porphyroideus. Confesso que tentei encontrá-lo noutras regiões da Nova Zelândia, mas nunca mais o vi. No entanto, foi um momento marcante na minha aventura para produzir o filme “Aotearoa”. Tal como a vida, o mundo é feito de pequenas coisas. Surpreendentes.