“Aotearoa – We Are All Made Of Stars”, o mais recente filme de Paulo Ferreira, foi premiado no famoso festival italiano “Oniros Film Awards”. Trata-se de um prestigiado festival que é suportado por alguns nomes reconhecidos do cinema mundial como, por exemplo, a cadeia de cinema Universal Movies, Stan Winston, Dreamlight, iPitch, etc.
Este filme, de cerca de 10 minutos de duração e que tenta consciencializar as pessoas para o problema das alterações climáticas, chamou a atenção do júri internacional. É agora do conhecimento publico de que venceu na categoria de “Best documentary short” (melhor documentário curto).
Também este festival dá acesso direto ao IMDb, pelo que os entusiastas desta plataforma podem saber mais acerca do filme e de todos os profissionais que estiveram envolvidos na sua produção, em: https://www.imdb.com/title/tt9728896/
A lista de premiados pode ser consultada aqui. “Aotearoa – We Are All Made Of Stars” é assim um documentário curto que tem dado que falar nos festivais internacionais de cinema independente.
Mantenha-se a par das novidades que o Paulo Ferreira irá publicar em breve, nomeadamente a estreia do seu filme produzido na Nova Zelândia, subscrevendo o seu canal do YouTube em: https://www.youtube.com/pauloferreirapt
Em quase todas as minhas aventuras, (como foi o caso da viagem à Nova Zelândia para realizar o filme “Aotearoa- We Are All Made Of Stars”), dificilmente perco a concentração no trabalho que estou a desenvolver ou que planeio vir a realizar, quer sejam planos de timelapse, vídeo ou simplesmente fotografia.
Foi o caso deste local, aqui retratado por uma fotografia da autoria de Marco Ribeiro. A concentração era tal que só depois de realizado o filme e visto o plano de timelapse que dali proveio, é que dei por mim a pensar que estive muito próximo de uma das zonas do Pacífico Sul com imensa atividade sísmica.
Pese embora o facto de em cada local e em cada momento, colocar todo o meu empenho no que estou a fazer, não obstante isso, uso as minhas capacidades de memória fotográfica para mais tarde relembrar tudo aquilo que me rodeava. E de facto, olhando para esta fotografia, vejo que estou bastante absorvido pelo momento que pretendia registar, tentando desesperadamente congelar aquele local e aquela cor de final de tarde. As marcas do sismo estavam ali mesmo ao meu redor, mas eu não queria saber disso, naquele instante.
Olhando agora, conscientemente percebo que toda esta região costeira havia sido alvo de um grande sismo em 2016. Eram ainda visíveis os desmoronamentos da principal via rodoviária que liga Christchurch ao Estreito de Cook. Por aqui circulei por duas vezes numa travessia memorável ao longo de uma costa retalhada, aqui ou ali salpicada por praias de areia negra que pareciam ligar a terra ao universo, quando o luar fazia brilhar os grãos de areia mais finos, cintilando como as estrelas. Apesar de tudo, ali estava eu, equilibrado numa rocha, junto ao Pacífico Sul tentando ajustar a câmera fotográfica, para realizar um plano de timelapse.
A minha aventura pela Nova Zelândia, com o objectivo de produzir um documentário curto que fosse capaz de prender a atenção das pessoas para que possam perceber que a nossa única casa (a Terra) está a viver alterações profundas, previa uma viagem de cerca de 15 dias. Quatro deles eram para a viagem entre Portugal e aquela região do globo. Por isso só me restavam apenas 11 dias para concretizar o que havia planeado com a devida antecedência. Contudo, previa a possibilidade das condições climatéricas serem adversas e impossibilitarem o meu trabalho, nos diversos locais que pretendia visitar.
Não demorou muito tempo para ser confrontado com esta adversidade. A estação do ano que havia escolhido, era propicia a estas condições climatéricas. Milford Sound revelou-se um deles.
Milford Sound fica bem no coração do Parque Nacional de Fiordland, na Nova Zelândia. Para lá chegar é preciso percorrer uma estrada nacional de várias centenas de quilómetros. Cumprindo o meu plano, saí de Invercargill bem cedo e o destino era esse lugar que eu almejava conhecer e registar em timelapse. No final da estrada e depois de atravessar uma zona muito montanhosa, enveredar por túneis e desfiladeiros muito apertados, ficar cara-a-cara com um Kea (um papagaio muito inteligente que habita aquela região), surge diante de mim a imensidão das montanhas de Milford Sound. Um lugar mágico, onde o céu e a Terra se unem num só. O problema era que eu não via o céu. O dia estava muito cinzento e chovia intensamente. A água jorrava das montanhas e eu ali, impossibilitado de fazer o meu trabalho, limitei-me a contemplar o que os meus olhos não viam. Mas não desisti.
Comecei de imediato a preparar uma segunda oportunidade e para isso era necessário alterar o plano. Rapidamente defini um plano B. A ideia era regressar a Invercargill. Na manhã seguinte e cumprindo o plano definido, que me levaria a Wanaka, teria obrigatoriamente de passar novamente por Milford Sound. E assim foi.
Cansado, com poucas horas de sono, na manhã seguinte regressei a Milford Sound. Até parecia que já conhecia a estrada e nenhum Kea ousou interferir no meu ojectivo, a não ser um controlo de velocidade que me fez perder algum tempo, pois havia que prestar atenção à forma educativa com que as autoridades locais me abordaram. Era 100 e não 120! Aceitei e pedi desculpa.
Voltei ao lado esquerdo da estrada e uns quilómetros mais à frente, tudo estava muito diferente! Eu já via o céu, aqui ou ali pintado por algumas nuvens. Até apetecia subir ao Mitre Peak (cerca de 1.700 m de altitude) para tocar o céu. Um pico assombroso, ali bem diante de mim. Rapidamente me muni da dolly “Stage One” e iniciei o plano de timelapse tão desejado, tentando com que nenhum mosquito ousasse pousar na objectiva.
Apesar de todas as adversidades, a persistência e a perseverança haviam dado frutos. Fruto esse que poderá ser visto quando divulgar o meu próximo filme sobre a Nova Zelândia.
De regresso do Fitz Roy, cheguei a El Chaltén ao final da tarde, com 25 quilómetros de trilhos percorridos e vários quilos ás costas. Estava exausto, mas feliz.
As experiências mais enriquecedoras são dotadas de uma intensidade arrebatadora que galga o tempo, salta horas e derruba espaços transportando-nos numa viagem acelerada que comprime o tempo. Parece matéria de ficção científica, mas eu havia chegado no dia anterior à Patagónia e preparava-me para partir no dia seguinte; no intervalo, haviam decorrido 15 dias. Confuso? Não! Tudo havia sido grandioso, extasiante, fora de medida. Um caldo de emoções a necessitar de ser coado, filtrado e assimilado, tal era a sua densidade. E nessa espessura de sentimentos os dias foram tragados, diluídos, esquecidos.
Fiz a viagem de regresso a El Calafate pela mesma estrada que me havia levado a El Chaltén. O caminho foi todo ele feito de olho no espelho retrovisor; não é que não levasse os olhos postos na estrada, em condução segura, mas as memórias recentes já faziam adivinhar saudades futuras. Abandonava El Chaltén com a certeza de que haviam sido os melhores e mais produtivos dias que havia passado durante toda a estadia na região. Que trilhos memoráveis; a experiência marcante de me pôr à prova, física e mentalmente, e a superação conseguida. Regressava mais forte, era uma certeza.
A aventura na Patagónia (Chile e Argentina) foi uma experiência muito interessante sobre o ponto de vista das inúmeras dificuldades com que me deparei ao percorrer a enorme região. Durante as curtas estadias nos mais variados locais, foi possível, aqui ou ali registar alguns desses momentos. Aqui ficam alguns deles, registados em smartphone.
A primeira paragem foi na Bahía Ensenada junto ao canal de Beagle, marcava o meu relógio as 11h00m. A pequena enseada abriga o posto dos correios, uma construção muito rudimentar em madeira com uma pequena chaminé de onde saía algum fumo, repleta de bandeiras e sinalética argentina como que a marcar a sua posição no território e de onde é possível ver do outro lado do canal, o Chile.
Atrevi-me a ir vê-lo mais de perto e percorri o pequeno pontão de madeira que suporta o posto dos correios e se prolonga até bem dentro da enseada. Reparei numa inscrição que dizia “Unidad Postal Fin del Mundo”. Perguntei a mim próprio por que razão estaria ali um posto dos correios: não havia ninguém nas redondezas e o local parecia saído de um conto de fadas.
Admirei o canal, as montanhas do lado do Chile e encantei-me com as inscrições em vários idiomas que se podiam ler um pouco por toda a parte exterior da pequena casa. Afinal, ali não era partida, mas chegada dos sete cantos do Mundo.
Não muito longe dali, no lado direito da enseada, um pequeno miradouro por debaixo do arvoredo de Lengas que se curvava para cima da água pareceu-me o cenário ideal para registar um timelapse. Um pequeno trilho ladeando a água do canal conduzia até ao miradouro.
O vento estava forte e a água bastante agitada, o que causava uma gélida sensação de frio; no entanto, os cerca de 100 metros foram percorridos rapidamente, mesmo carregando a mochila e o tripé que pesavam uns bons 15 quilos.
No local, percebi que estava bem acima do nível da água e havia uma pequena ravina em pedra bem na minha frente. A água talvez distasse uns seis metros de mim. Por um lado, era bom, pois as gotículas provenientes das ondas e que eram elevadas pelo vento não molhariam a objectiva; por outro, sentiria mais o vento.