A Lua e a Torre de Siza Vieira
A decisão de fotografar a Lua com a Torre de Siza Vieira ao fundo foi, acima de tudo, uma busca por capturar a harmonia entre a natureza e a arquitetura. A ideia surgiu há bastante tempo e o planeamento foi ajustado em função da minha visita ao Refúgio do Raposo, um local algures na Terra e que tem vista para o firmamento. Num momento de pura inspiração aquando da minha estadia em Proença-a-Nova, quando percebi que a Lua, a torre (design de Siza Vieira) poderiam formar um alinhamento perfeito, decidi meter os pés ao caminho e ir em busca do melhor local mesmo que no meio dos montes ao redor da Serra das Talhadas. A fotografia não seria apenas uma imagem, mas uma representação visual da união entre a natureza e a genialidade humana. E para isso eu tinha de me aventurar por montes e vales, ao lusco fusco, numa bela noite de Verão.
Confesso que chegar até ao local foi um verdadeiro desafio. Tive que encontrar o ponto exato onde a câmera, a Lua e a torre formassem o alinhamento perfeito, o que não foi fácil devido à inacessibilidade do local e à necessidade de ajustar a posição da câmera com precisão. Eu tinha a tecnologia do meu lado, mas isso não era suficiente. A espera pela hora exata foi um teste de paciência, já que o alinhamento era algo efémero, que dependia de variáveis como a luminosidade e a posição exata da Lua no céu. Rapidamente verifiquei que quando a mesma surgiu por detrás da Serra das Talhadas, estava uns metros à direita da torre e isso obrigou-me a deslocar rapidamente para a esquerda em busca do enquadramento perfeito. Um exercício mirabolante, quando estamos no meio do mato.
Depois de vários cliques (não muitos pois a Lua eleva-se no horizonte muito rapidamente) e quando finalmente editei a foto e vi o resultado, senti uma enorme satisfação. Um projeto cumprido. Uma sensação de realização pessoal, que seria ao mesmo tempo uma concretização lendária. A imagem, com a sua composição perfeita, transmitiu exatamente o que eu queria: a beleza da fusão entre a criação Humana e o que a natureza nos oferece todas as noites. Um momento fugaz mas eterno através da minha objetiva.
Link para o texto de Miguel Gonçalves (clique na imagem):