Skip to main content

Etiqueta: Natureza

Eduardo Rêgo em Gondomar

No passado fim de semana, o Eduardo Rêgo do projeto Loving the Planet, passou por Gondomar, a meu convite e ficou alojado na Goldnature, do casal amigo, Paula Branco e Norberto Calaia. Foi-lhe proporcionado conhecer os “Rapazes de Jancido” e o seu projeto Moinhos de Jancido, antes de participar na 3ª edição do “Cinema nos moinhos”. Plantou uma árvore e falou com todos nós. Um dia que ficará para sempre na minha memória.

Continuar a ler

A lontra (Lutra lutra) é um mamífero da família Mustelidae

Lontra

Paulo Ferreira (Fotografia e vídeo de natureza):

Era um domingo à tarde. Por volta das 18H00. Rumei em direção aos moinhos de Jancido, em Gondomar. O objetivo era bastante claro: – fotografar o Papa-figos, ou então uma ou outra Lontra que porventura subisse o rio Sousa. Havia combinado com o Joel, uma visita ao local, pois havia a indicação de que o Papa-figos tinha sido avistado nas proximidades. Eu não estava muito crente em conseguir uma fotografia da ave, mas pelo contrário, estava confiante que a probabilidade de avistar a Lontra era bem maior. Depois de nos cruzarmos num dos trilhos junto ao rio Sousa e de colocarmos a conversa em dia, não demorou muito tempo até eu perceber que surgiam alguns ruídos na água. Mesmo que pouco audíveis, eu sabia bem que a presença da Lontra era uma realidade. Já conheço os sons que fazem, quando andam à pesca. Ainda estava a tentar eliminar algum ruído que me distraía, quando de repente os meus olhos confirmaram a presença do animal junto à margem, debaixo de um salgueiro. Dado que era final de tarde, havia muitas sombras e como tal era impossível observá-la devidamente. Contudo, aqui ou ali ela surgia por entre a vegetação e iluminada pelos raios de sol, eu confirmava o seu movimento. Estava de facto a subir o rio e a alimentar-se de peixe.

De forma esquiva, desloquei-me um pouco mais para montante do rio na espectativa de a conseguir observar e fotografar numa área menos coberta de vegetação. Mas rapidamente percebi que estava a lidar com um animal selvagem e como tal, não é fácil entrar no seu mundo. Isto porque quando se aproximou da zona mais aberta do rio, decidiu mergulhar e não a vi durante uns bons 20 metros. Mas não desisti e continuei a subir o rio junto à margem e a saltar por entre as urtigas ou as silvas que por ali abundavam. Já não sentia as pernas e os braços, mas isso não era problema, pelo menos naquele momento. Mais tarde, já não pensaria dessa maneira. Centenas de picadelas mais tarde e de quase me deitar na erva que ladeava o rio, eis que surge o momento pelo qual esperava. Diante de mim, do outro lado da margem, debaixo de alguns arbustos sobranceiros ao rio, surge a Lontra. Matreira e perspicaz, escondeu-se numa reentrância do rio e por ali ficou a mastigar um peixe. Com um olho na objetiva e outro na Lontra, não desisti até que um ou dois minutos mais tarde, ela decide vir para o local onde os raios de sol entravam. E ficou iluminada durante uns segundos, tempo suficiente para conseguir algumas fotografias como as que incluo neste artigo.

Outros tantos segundos mais tarde, e para surpresa minha, saiu do buraco sombrio onde estava e começou a nadar na minha direção. Foi quando consegui a 2ª fotografia (em baixo). Ela olhou-me bem nos olhos e permitiu que a fotografasse. Mas não foram mais do que meia dúzia, pois no momento seguinte, virou para a nascente do rio e desapareceu debaixo de água. Nunca mais a vi nessa tarde.  Mas para mim foi o tempo suficiente. E a natureza deve ser assim. Um vislumbre.

Lontra

Joel Neves (Biólogo):

A lontra (Lutra lutra) é um mamífero da família Mustelidae (família que engloba as doninhas, fuinhas e furões) que habita diferentes sistemas aquáticos como rios, lagos, pauis e estuários e que se distribui amplamente pelo nosso território. Estes animais terão evoluído no sentido de se adaptarem a este tipo de habitats, tendo desenvolvido características que os permitiram colonizar estes meios. Com um corpo fusiforme, uma cauda forte, mas flexível e revestido por pelugem espessa que lhes permite regular eficientemente a temperatura corporal e resistir a baixas temperaturas da água, as lontras ostentam um singular hidrodinamismo. Estas características morfológicas, aliadas à presença de membranas digitais, fazem deste mustelídeo um nadador exímio, capaz de nadar aproximadamente 8h sem interrupções. São, também, predadores extremamente vorazes, alimentando-se essencialmente de peixe, embora possam predar anfíbios e invertebrados, assim como mamíferos, aves aquáticas e répteis em casos muito particulares. São animais crepusculares e noturnas, sendo mais provável de serem observadas nas primeiras e últimas horas do dia. As lontras podem reproduzir-se durante todo o ano consoante a disponibilidade de recursos alimentares, sendo a primavera e o verão as épocas mais favoráveis para tal. São dependentes de locais com vegetação ripícola (vegetação associada às linhas de água) bem desenvolvida, uma vez que é aí que formam as suas tocas que servem de refúgio e de local de reprodução.
A sua presença depende essencialmente da disponibilidade de recursos e do estado dos seus habitats, sendo por isso a qualidade da água e da galeria ripícola essenciais para ocorrência desta espécie. Embora esteja sobre abrigo da Habitats e as convenções de Berna e Washington (CITES), está sujeito a diferentes tipos de ameaça. A poluição aquática, seja ela de qualquer tipo for (urbana, industrial ou agropecuária) pode afetar direta (degradação da capacidade de isolamento térmica por parte do pelo) ou indiretamente (diminuição das populações das suas presas) as lontras. A destruição da galeria ripícola, seja pela sua conversão em campos agrícolas, em zonas urbanas ou para a regularização das linhas de água, é também uma das principais ameaças sobre esta espécie. Mais recentemente, a presença de espécies invasoras, mais concretamente de uma outra espécie de mustelídeo, o visão-americano (Neovison vison), é uma forte ameaça uma vez que compete com as lontras, dado que são ecologicamente muito semelhantes e partilham os mesmos hábitos, dieta e locais de ocorrência e nidificação.
Concluindo, esta espécie cativante e emblemática das nossas linhas de água deve ser considerada uma espécie-bandeira, ou seja, deve representar uma causa ambiental e ser tida em conta na sensibilização, não só para a sua própria conservação, bem como dos seus habitats, e com isto fazer com que a população geral, e em particular aqueles que tenham o poder de decisão, tomem medidas que salvaguardem a espécie e que os ecossistemas aquáticos sejam geridos de uma forma consciencializada.

Continuar a ler

Paulo Ferreira, com uma enorme sensibilidade ecológica e uma alma de artista

Moinho do Alves

Padre Tony Neves, Jancidense em Roma, escreveu o seguinte a respeito do Paulo Ferreira:

Estes ‘Rapazes de Jancido’, a quem presto a minha homenagem, atraíram multidões de olhares, mas um deles é muito especial: o do Paulo Ferreira, com uma enorme sensibilidade ecológica e uma alma de artista. O seu documentário ‘No silêncio dos Moinhos’ é de encher o coração deste silêncio belo que fala alto e cala fundo. E depois surgiu um livro, que põe à disposição de um público mais amplo, fotos de rara e profunda beleza.
Agradeço aos ‘Rapazes’ a sua dedicação enorme a esta causa. Dou as maiores felicitações ao Paulo pela sua presença constante (já faz parte da equipa!), pelo magnífico trabalho realizado. E não esqueço a belíssima foto das enchentes do Rio Sousa junto à Ponte de Longras que o Paulo me ofereceu na 1ª Missa dos Moinhos, celebrada no ‘Auditório’ em 2021.
Deliciem os olhos com estas fotos, vejam o documentário e voltem quantas vezes puderem a este ambiente de paraíso que os ‘Rapazes’ ajudam a redescobrir e abrir ao mundo.

Continuar a ler

Paulo Ferreira realiza novo documentário natural na ilha Graciosa

Documentário natural na ilha Graciosa

Paulo Ferreira divulgou hoje o seu próximo projeto de documentário natural. Desta vez será na ilha Graciosa, no arquipélago dos Açores e terá o apoio das seguintes entidades e empresas:
Governo dos Açores – Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, Lado B – A Melhor Francesinha do Mundo, Opticalia Gondomar, Divingraciosa, Município Santa Cruz da Graciosa, Rent-a-car Graciosa, Claranet Portugal, Moinho de Pedra – Turismo Rural. Se achas que deves apoiar este ou os próximos trabalhos, entra em contacto.

Continuar a ler

Concurso de Fotografia “Biodiversidade nos Moinhos de Jancido”

Concurso de fotografia

O concurso de Fotografia “BIODIVERSIDADE NOS MOINHOS DE JANCIDO” é organizado por Paulo Ferreira e pelos “Rapazes de Jancido” e insere-se no evento “Cinema nos moinhos” que terá lugar no próximo dia 29 de julho de 2023. Tem como objetivos principais, refletir e consciencializar a população em geral sobre a importância da Biodiversidade na zona dos Moinhos de Jancido, assim como desenvolver a criatividade e a expressividade.

O prazo de envio dos trabalhos originais decorre até ao dia 24 de julho de 2023 (será considerada a data de carimbo dos C.T.T.). As cópias apresentadas não serão devolvidas.

Para participar devem ler o regulamento do concurso: Regulamento

Continuar a ler

Notícia Vivacidade sobre o recente documentário do Parque das Serras do Porto

O documentário “Parque das Serras do Porto – um olhar independente” cuja estreia aconteceu no passado dia 7 de junho de 2023, tem sido um enorme sucesso no que á divulgação do estado atual do parque diz respeito. Após a sua visualização seguiu-se uma mesa redonda com vários convidados de entre os quais se salienta: Eduardo Rêgo (Loving the Planet), Arquitecta paisagística, Filipa Almeida (Apijardins), Serafim Riem (Iris – Associação Nacional de Ambiente), Prof. José Alberto Loureiro Pereira, Vitor Parati, Joel Neves – biólogo e António Gonçalves (dos rapazes de Jancido).

Esta semana foi notícia no jornal Vivacidade.

noticia-vivacidade

Continuar a ler

Em busca dos pirilampos perdidos

Pirilampos

Era um dia, como todos os dias de verão. Ou se calhar, não.
O relógio marcava 21h30, o sol de cor quente desaparecia na linha do horizonte. Tinha comido qualquer coisa a correr e sem dar por isso, percorria um caminho que escurecia a cada passo, junto às margens do rio Sousa. Os meus olhos começavam a habituar-se à ausência de luz natural. E apesar de tropeçar aqui ou ali numa pedra ou numa raiz do caminho, não desviei o olhar de uma ou de outra luz que piscava ao meu redor. Eu seguia-as a cada passo. O caminho parecia um túnel feito de árvores e arbustos e os seus ramos faziam questão de me despentear. Parecia que estava a entrar num filme fantástico, numa outra realidade. Aos poucos, aquela pequena luz amarela que piscava ao meu redor, foi-se juntando a outras que piscavam ainda mais. O entusiasmo cresceu e o mundo fantástico dos pirilampos revelou-se. E por ali fiquei a observar aquele mundo. Quando dei por mim, estava a seguir aquelas pequenas luzes para todo o lado. Para a esquerda, para a direita, para cima e para baixo. Quase a perder o equilíbrio, pisquei os olhos mais uma vez e disse para mim que era chegada a hora de registar aquele momento. De acordar e de começar a trabalhar. A noite seria longa. As rãs fizeram questão de me acompanhar no processo de montagem do tripé e das definições da câmara fotográfica. Foi ao som delas que a noite se tornou ainda mais animada. Por lá passaram umas quantas pessoas que vinham ver o fenómeno e alguém me dizia: “Parece um filme do avatar”.

Citando Alberto Caeiro, eu atrevo-me a dizer:

O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender …

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar …
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar…

Pirilampos
Pirilampos

Continuar a ler

Hoje de manhã saí muito cedo

Garça-real (Ardea cinerea)

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer…Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.Assim tem sido sempre a minha vida, e
assim quero que possa ser sempre —
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”

Continuar a ler