Skip to main content

Etiqueta: Natureza

Ponte medieval no Parque Natural do Alvão

Ponte romana Parque Natural do Alvão

Ponte medieval no Parque Natural do Alvão. O local estava em silêncio, antes de começar a ouvir o som dos meus próprios pés, quando comecei a descer o amontoado de pedras, cobertas pelas folhas secas. A água do rio Ôlo, escura e macia, salpicada pelas gotas de água que caíam das nuvens negras, dava um toque misterioso ao cenário que estava diante de mim. Procurei ficar em silêncio e por ali continuei alguns minutos a observar atentamente cada detalhe do local, ao mesmo tempo que ia registando algumas fotografias.

Continuar a ler

A Lua que quase beijou a torre do Castelo de Noudar

A Lua em Noudar

Tive a oportunidade de realizar um workshop de fotografia noturna, em pareceria com o Parque de Natureza de Noudar, nos dias 18, 19 e 20 de agosto. O local possui excelentes condições noturnas para que este tipo de fotografia seja realizado. Praticamente não há luz artificial nas proximidades do parque e isso é uma mais-valia para a astrofotografia, por exemplo. Foi o caso desta imagem. Eu sabia que nesses dias, a Lua iria “passar sobre o castelo de Noudar”, se o ponto de registo desse momento, fosse as instalações da Herdade da Coitadinha (Parque de Natureza de Noudar). Dias antes havia consultado alguma informação ao nível de software que ajuda a perceber estes momentos únicos. Mas apesar dessa consulta e cruzamento de informação ao nível da tecnologia existente, não tinha a certeza disso mesmo. Corria o risco de ter de me movimentar para a lateral das instalações e isso poderia não ser possível dado que os terrenos são vedados para pasto dos animais que habitam o parque. Os nossos sentidos ainda são uma mais-valia para complementar a parte tecnológica do processo. E havia outra razão para estar um pouco sético, e que tem a ver com as condições meteorológicas. Por exemplo, as nuvens não podiam surgir ao final da tarde. Munido de uma câmara fotográfica e de uma objetiva de 600mm, montei o tripé no pátio exterior da Herdade por volta das 20h00 e aguardei pelo momento mais favorável ao registo fotográfico. O relógio marcava 20h27 quando a Lua “aparentemente descia” sobre a muralha do Castelo de Noudar. Foram registadas algumas fotografias em diferentes técnicas fotográficas e o resultado é este. Uma Lua que quase beijou a torre do Castelo de Noudar. O mundo é admirável. Só temos de o saber preservar.  Sermos sustentáveis e consciencializar os políticos mais sépticos. Este é o meu desígnio.

Continuar a ler

Fotografia noturna em noite de Verão

Ponte_Longras_Noite

A noite caía a passos largos. Olhei para o relógio, marcava 21h15 e eu descida para a ponte de Longras. Uma centenária passagem rudimentar sobre o rio Sousa nas proximidades dos Moinhos de Jancido. Outrora palco de grandes batalhas (entre animais e as pessoas que retiravam da terra o seu sustento), na atualidade serve para os amantes da natureza se deliciarem com as vistas, quer para montante, quer para jusante do rio Sousa. Ao chegar à ponte, o Joel (biólogo), estava sentado na beira do rio (havíamos combinado encontro naquele local horas antes). O objetivo era registar alguns planos de timelapse noturnos e se a ocasião se propusesse, uma ou outra ave noturna, como o Noitibó (um sonho para quem gosta de aves noturnas).
Aproximei-me do rio e procurei um local que enquadrasse a ponte de Longras e a copa das árvores que ladeiam as margens. Apesar de estar num local encaixado no vale do Sousa, ainda assim consegui colocar parte da Via Láctea dentro da imagem. Tinha como finalidade registar o movimento das nuvens e das estrelas que salpicavam a noite de Verão. Pelo meio da escuridão, fui avançando rio dentro para posicionar o tripé e só quando senti os pés molhados é que descobri que havia chegado ao sítio certo. E por ali fiquei largos minutos, O Joel falava de aves noturnas e eu ouvia-o como se estivesse a ler um livro, sentado numa carruagem do expresso do oriente que avançava pela paisagem noturna a todo o vapor. A dada altura, pediu silêncio. Disse-lhe que eu estava calado, ele é que estava a falar. Respondeu que ouvira um Noitibó. E de facto eu também o ouvia, agora que ele o assinalou. E ali ficamos a ouvir, enquanto a câmara registava calmamente as fotografias necessárias para a produção do plano de timelapse. Misteriosos e simultaneamente fascinantes, os noitibós são aves insectívoras de hábitos crepusculares. O noitibó-da-europa faz-se notar principalmente pelo seu canto que faz lembrar um inseto. Era um encanto. Assim torna-se mais fácil concretizar ideias.

Continuar a ler

O bútio-vespeiro (Pernis apivorus) é uma ave de rapina discreta e pouco comum

Butio-vespeiro

Paulo Ferreira (Fotografia e vídeo de natureza):

Sou um frequentador habitual da zona dos moinhos de Jancido. Desde 2019 que não há uma semana, que não passe pelo local. Tem sido o meu sítio preferido no que à fotografia e vídeo de natureza, diz respeito. E por essa razão, frequento muitos locais, onde sei que a probabilidade de encontrar uma ave, por exemplo, é muito grande. Foi o caso deste Bútio-vespeiro. Já o estava a seguir há alguns dias, dado que possuía informação relativa à sua localização e preferência de pouso junto à margem do rio Sousa. Gostava de “caçar” algumas rãs menos atentas à presença desta ave. Ou porque talvez não soubessem que ela também gosta de outras coisas, para além de abelhas ou vespas. Talvez seja bom para uma dieta mais saudável. E como tinha informação privilegiada, decidi apostar naquele local. Só posso dizer que a sorte acompanha os audazes, pois dias mais tarde (depois de muitos insucessos), acabei por fotografar esta bela ave, logo após levantar voo junto á margem do rio. Local onde se escondia inúmeras vezes, pois trata-se de uma ave que gosta do contacto com o solo. Com um olho na camera e outro na ave, lá fiz mais de uma dezena de fotografias, quase todas elas sem a qualidade que pretendia. Exceto esta, que o amigo biólogo Joel Neves aceitou escrever o seguinte texto.

Joel Neves (Biólogo):

O bútio-vespeiro (Pernis apivorus) é uma ave de rapina discreta e pouco comum, que partilha algumas semelhanças com a águia-de-asa-redonda (Buteo búteo), com a qual é facilmente confundida. Distingue-se deste última pela ausência da característica meia-lua no peito, pela cabeça cónica e projetada, cauda de maiores dimensões e com múltiplas barras. Apresenta um leque variado de plumagens que, para além das diferenças já habituais consoante o sexo e a idade, inclui uma forma clara, uma forma intermédia (como a que pode ser observada foto) e uma forma escura.

É um migrador estival tardio (maio a setembro/outubro) oriundo da África Tropical. Passa os primeiros meses exclusivamente nos locais de nidificação, preferindo zonas florestais com árvores de grande porte (maioritariamente carvalho e pinheiro no Norte), intercaladas com clareiras. Em agosto, começam a dispersar e a iniciar a sua viagem de regresso para os locais de invernada, pelo que podem ser observados com mais facilidade durante esta época do ano. Alimentam-se essencialmente de ninhos, adultos e larvas de vespas e abelhas, podendo estender a sua dieta a insetos, répteis, pequenos mamíferos, e crias e ovos de aves. De salientar que é um dos poucos predadores conhecidos, a par do abelharuco (Merops apiaster), da invasora vespa-asiática (Vespa velutina).

É uma espécie que em Portugal encontra-se com um estatuto de conservação classificado como “Vulnerável” e está protegida por lei sobre alçada da diretiva Aves e das convenções de Berna, Bona e Washington (CITES). As maiores ameaças à espécie são a perturbação humana nos locais de nidificações, colisão com linhas de alta tensão, destruição de manchas florestais autóctone e conversão em monoculturas florestais, e a instalação de parques eólicos em locais de nidificação ou em corredores de migração.

Continuar a ler

Eduardo Rêgo em Gondomar

No passado fim de semana, o Eduardo Rêgo do projeto Loving the Planet, passou por Gondomar, a meu convite e ficou alojado na Goldnature, do casal amigo, Paula Branco e Norberto Calaia. Foi-lhe proporcionado conhecer os “Rapazes de Jancido” e o seu projeto Moinhos de Jancido, antes de participar na 3ª edição do “Cinema nos moinhos”. Plantou uma árvore e falou com todos nós. Um dia que ficará para sempre na minha memória.

Continuar a ler

A lontra (Lutra lutra) é um mamífero da família Mustelidae

Lontra

Paulo Ferreira (Fotografia e vídeo de natureza):

Era um domingo à tarde. Por volta das 18H00. Rumei em direção aos moinhos de Jancido, em Gondomar. O objetivo era bastante claro: – fotografar o Papa-figos, ou então uma ou outra Lontra que porventura subisse o rio Sousa. Havia combinado com o Joel, uma visita ao local, pois havia a indicação de que o Papa-figos tinha sido avistado nas proximidades. Eu não estava muito crente em conseguir uma fotografia da ave, mas pelo contrário, estava confiante que a probabilidade de avistar a Lontra era bem maior. Depois de nos cruzarmos num dos trilhos junto ao rio Sousa e de colocarmos a conversa em dia, não demorou muito tempo até eu perceber que surgiam alguns ruídos na água. Mesmo que pouco audíveis, eu sabia bem que a presença da Lontra era uma realidade. Já conheço os sons que fazem, quando andam à pesca. Ainda estava a tentar eliminar algum ruído que me distraía, quando de repente os meus olhos confirmaram a presença do animal junto à margem, debaixo de um salgueiro. Dado que era final de tarde, havia muitas sombras e como tal era impossível observá-la devidamente. Contudo, aqui ou ali ela surgia por entre a vegetação e iluminada pelos raios de sol, eu confirmava o seu movimento. Estava de facto a subir o rio e a alimentar-se de peixe.

De forma esquiva, desloquei-me um pouco mais para montante do rio na espectativa de a conseguir observar e fotografar numa área menos coberta de vegetação. Mas rapidamente percebi que estava a lidar com um animal selvagem e como tal, não é fácil entrar no seu mundo. Isto porque quando se aproximou da zona mais aberta do rio, decidiu mergulhar e não a vi durante uns bons 20 metros. Mas não desisti e continuei a subir o rio junto à margem e a saltar por entre as urtigas ou as silvas que por ali abundavam. Já não sentia as pernas e os braços, mas isso não era problema, pelo menos naquele momento. Mais tarde, já não pensaria dessa maneira. Centenas de picadelas mais tarde e de quase me deitar na erva que ladeava o rio, eis que surge o momento pelo qual esperava. Diante de mim, do outro lado da margem, debaixo de alguns arbustos sobranceiros ao rio, surge a Lontra. Matreira e perspicaz, escondeu-se numa reentrância do rio e por ali ficou a mastigar um peixe. Com um olho na objetiva e outro na Lontra, não desisti até que um ou dois minutos mais tarde, ela decide vir para o local onde os raios de sol entravam. E ficou iluminada durante uns segundos, tempo suficiente para conseguir algumas fotografias como as que incluo neste artigo.

Outros tantos segundos mais tarde, e para surpresa minha, saiu do buraco sombrio onde estava e começou a nadar na minha direção. Foi quando consegui a 2ª fotografia (em baixo). Ela olhou-me bem nos olhos e permitiu que a fotografasse. Mas não foram mais do que meia dúzia, pois no momento seguinte, virou para a nascente do rio e desapareceu debaixo de água. Nunca mais a vi nessa tarde.  Mas para mim foi o tempo suficiente. E a natureza deve ser assim. Um vislumbre.

Lontra

Joel Neves (Biólogo):

A lontra (Lutra lutra) é um mamífero da família Mustelidae (família que engloba as doninhas, fuinhas e furões) que habita diferentes sistemas aquáticos como rios, lagos, pauis e estuários e que se distribui amplamente pelo nosso território. Estes animais terão evoluído no sentido de se adaptarem a este tipo de habitats, tendo desenvolvido características que os permitiram colonizar estes meios. Com um corpo fusiforme, uma cauda forte, mas flexível e revestido por pelugem espessa que lhes permite regular eficientemente a temperatura corporal e resistir a baixas temperaturas da água, as lontras ostentam um singular hidrodinamismo. Estas características morfológicas, aliadas à presença de membranas digitais, fazem deste mustelídeo um nadador exímio, capaz de nadar aproximadamente 8h sem interrupções. São, também, predadores extremamente vorazes, alimentando-se essencialmente de peixe, embora possam predar anfíbios e invertebrados, assim como mamíferos, aves aquáticas e répteis em casos muito particulares. São animais crepusculares e noturnas, sendo mais provável de serem observadas nas primeiras e últimas horas do dia. As lontras podem reproduzir-se durante todo o ano consoante a disponibilidade de recursos alimentares, sendo a primavera e o verão as épocas mais favoráveis para tal. São dependentes de locais com vegetação ripícola (vegetação associada às linhas de água) bem desenvolvida, uma vez que é aí que formam as suas tocas que servem de refúgio e de local de reprodução.
A sua presença depende essencialmente da disponibilidade de recursos e do estado dos seus habitats, sendo por isso a qualidade da água e da galeria ripícola essenciais para ocorrência desta espécie. Embora esteja sobre abrigo da Habitats e as convenções de Berna e Washington (CITES), está sujeito a diferentes tipos de ameaça. A poluição aquática, seja ela de qualquer tipo for (urbana, industrial ou agropecuária) pode afetar direta (degradação da capacidade de isolamento térmica por parte do pelo) ou indiretamente (diminuição das populações das suas presas) as lontras. A destruição da galeria ripícola, seja pela sua conversão em campos agrícolas, em zonas urbanas ou para a regularização das linhas de água, é também uma das principais ameaças sobre esta espécie. Mais recentemente, a presença de espécies invasoras, mais concretamente de uma outra espécie de mustelídeo, o visão-americano (Neovison vison), é uma forte ameaça uma vez que compete com as lontras, dado que são ecologicamente muito semelhantes e partilham os mesmos hábitos, dieta e locais de ocorrência e nidificação.
Concluindo, esta espécie cativante e emblemática das nossas linhas de água deve ser considerada uma espécie-bandeira, ou seja, deve representar uma causa ambiental e ser tida em conta na sensibilização, não só para a sua própria conservação, bem como dos seus habitats, e com isto fazer com que a população geral, e em particular aqueles que tenham o poder de decisão, tomem medidas que salvaguardem a espécie e que os ecossistemas aquáticos sejam geridos de uma forma consciencializada.

Continuar a ler

Paulo Ferreira, com uma enorme sensibilidade ecológica e uma alma de artista

Moinho do Alves

Padre Tony Neves, Jancidense em Roma, escreveu o seguinte a respeito do Paulo Ferreira:

Estes ‘Rapazes de Jancido’, a quem presto a minha homenagem, atraíram multidões de olhares, mas um deles é muito especial: o do Paulo Ferreira, com uma enorme sensibilidade ecológica e uma alma de artista. O seu documentário ‘No silêncio dos Moinhos’ é de encher o coração deste silêncio belo que fala alto e cala fundo. E depois surgiu um livro, que põe à disposição de um público mais amplo, fotos de rara e profunda beleza.
Agradeço aos ‘Rapazes’ a sua dedicação enorme a esta causa. Dou as maiores felicitações ao Paulo pela sua presença constante (já faz parte da equipa!), pelo magnífico trabalho realizado. E não esqueço a belíssima foto das enchentes do Rio Sousa junto à Ponte de Longras que o Paulo me ofereceu na 1ª Missa dos Moinhos, celebrada no ‘Auditório’ em 2021.
Deliciem os olhos com estas fotos, vejam o documentário e voltem quantas vezes puderem a este ambiente de paraíso que os ‘Rapazes’ ajudam a redescobrir e abrir ao mundo.

Continuar a ler